Clara virou ligeiramente a cabeça e pediu que Bruno lhe entregasse uma chave de fenda. Ele, ainda atônito, obedeceu mecanicamente.
— Você sabe mesmo o que está fazendo? — ele perguntou, agora um pouco mais interessado do que cético.
— Sei sim — respondeu ela com simplicidade. — Parece que o problema está no conector da bateria. Está frouxo e com oxidação. Posso limpar e ajustar.
— Isso não é coisa de criança, pequena.
— Não sou só uma criança, senhor. Eu sou a sobrinha do Lucas Hermán, dono da oficina Hermán & Filhos. Ele diz que sou a melhor aprendiz que já teve.
Bruno deu um meio sorriso. Pela primeira vez desde que seu Mustang preto havia parado, ele se permitiu relaxar.
— Então você é Clara? — murmurou ele, franzindo o cenho. — Lucas já falou de você.
— Falou?
— Sim. Disse que a sobrinha dele sabia mais de carburador do que muito mecânico crescido.
Clara deu um risinho envergonhado e começou a trabalhar com movimentos firmes e cuidadosos. Enquanto girava a chave, Bruno reparou em algo em sua mão — algo que brilhou sob o sol morno da tarde.
Era um anel. Pequeno, de ouro envelhecido, com uma pedra azul desbotada no centro.
Ele congelou.
— Esse anel… — murmurou ele, ajoelhando-se ao lado dela. — De onde você conseguiu isso?
Clara olhou para o anel, confusa com a pergunta.
— Foi da minha mãe — respondeu. — Ela morreu quando eu era pequena. Meu tio diz que era dela quando era jovem. Por quê?
Bruno sentiu um frio subir pela espinha. Reconhecia aquele anel. Já o tinha visto antes, há muitos anos, no dedo da mulher que lhe deu um beijo de despedida e desapareceu de sua vida. Clara tinha os olhos dela. O mesmo jeito de apertar os lábios quando se concentrava.
— Qual era o nome da sua mãe?
— Helena… Helena Bauer — disse Clara. — Por que quer saber?
Bruno ficou sem palavras por um instante. Um nome que ele não ouvia havia mais de uma década. Um nome que o perseguia em noites solitárias, quando o sucesso e o dinheiro não bastavam para preencher o vazio que Helena deixara.
Ele caiu sentado na beira da estrada, o olhar fixo em Clara como se tivesse visto um fantasma.
— Você… você é minha filha?
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